terça-feira, 21 de julho de 2009

O resgate do Rei do Suingue


A melhor parte de Simonal — Ninguém Sabe o Duro que Dei está no uso competente de imagens de arquivo. Graças a um notável trabalho de pesquisa, seleção, corte e mixagem, o protagonista do filme — cantor de grande sucesso nas décadas de 60 e 70 — é reconstruído na tela em todo o seu carisma e talento, suingue e irreverência. Bastam alguns minutos de projeção para que a plateia se entregue ao embalo da “pilantragem” de Simonal, balançando a cabeça e batendo o pé na cadência gostosa da mistura entre samba e soul.

O trabalho de pesquisa histórica é reunido, pela montagem, a interessantes interferências gráficas e uma de série de entrevistas que informam e contextualizam as imagens. Em seus bons momentos, esses depoimentos acrescentam carga dramática ao filme, na medida em que amigos, inimigos, familiares e observadores dos acontecimentos expõem sentimentos ligados ao protagonista e à época.

Isso tudo se dá na primeira metade de Simonal, quando o documentário se dedica a representar o crescimento vertiginoso da carreira do cantor. Na segunda metade, a coisa muda de figura. Ao abordar os motivos que levam à queda do Rei do Suingue, o filme que tendia até então para o musical assume agora o ar de investigação jornalística, que tem os seus problemas.

O maior deles é que esbarra no limite da entrevista. Como instrumento de coleta de informação, a entrevista é um procedimento tão rico quanto precário. Não raro, diz mais sobre o entrevistado que sobre o assunto da conversa. Parece ser justamente isso o que acontece em Simonal. Sem conseguir se aprofundar num processo de apuração efetivo, o filme se apoia num choque de versões que é insuficiente para estabelecer a culpa ou inocência do cantor (e esse nem deveria ser o caso). Expõe, isso sim, a leviandade de muita gente envolvida na história.

É preciso relevar o discurso moralizante, bem como compreender certo conservadorismo estético e baixa autorreflexividade, para detectar em Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei uma contribuição inquestionável: ao olhar com carinho para esse personagem marginal, o documentário certamente ajuda a resgatar a história e a importância do intérprete para o contexto da música brasileira.


OBS: Texto originalmente publicado no blog do professsor Lisandro Nogueira em 5 de julho de 2009. O documentário já não está mais cartaz em Goiânia. Enquanto aguarda o lançamento em DVD, veja um trecho abaixo.


Um comentário:

Juliana Albuqueque disse...

Interessante sua visão sobre o documentário, mais do que nunca quero ver.