sexta-feira, 26 de junho de 2009

Lourival Belém Jr. de volta à cena


Está previsto para 20 de agosto o lançamento do novo trabalho de Lourival Belém Jr. Fruto de uma parceria entre o Cineclube Antônio das Mortes e a Idéia Produções, Recordações de um Presídio de Meninos é definido pelo cineasta como um documentário ficcional. "É um pouco diferente dos filmes que tenho feito, um caminho que tenho buscado, mais lírico, confessional, poético", explica.

Rodado em preto e branco, o filme tem 30 minutos de duração e está sendo finalizado em mídia digital. Conta a história de um jornalista negro que, alguns anos depois da destruição da Febem, volta para falar da instituição onde foi interno, de sua própria trajetória na época da ditadura e de seus amores. "É um filme que estou fazendo há vinte e tantos anos", revela Belém, já emendando: "Meu trabalho é sempre lento".

Psiquiatra por formação e cineasta autodidata, Belém já prepara outro documentário - na verdade, uma série. "Há quatro ou cinco anos estou filmando o sertão em três locais: um é o sertão do Maranhão, minha origem; outro, o sudoeste goiano, região mais rica do Estado; e outro o nordeste, a região dos Kalunga, a mais pobre". O material filmado já chega à casa das 20 ou 30 horas, segundo ele mesmo. Para cada hora filmada, Belém gasta outras cinco no trabalho de decupagem. "O primeiro documentário deve sair em dois anos", adianta.

Quem conhece As Cidadelas Invisíveis e Concerto da Cidade sabe que deve vir coisa boa por aí.

Ao me encontrar com Belém na Cidade de Goiás, durante o XI Fica, fiz-lhe algumas perguntas. Aqui vão dois trechos da pequena entrevista:

Você concorda que, em Goiás, os realizadores estão muito preocupados em concorrer a prêmios e pouco preocupados em pensar o cinema?

Dez anos atrás, para você ler um livro de linguagem cinematográfica ou dar um curso de documentário, você tinha que sair garimpando textos, pegando filmes em VHS... Hoje você tem uma disponibilidade grande de livros e filmes, há cursos especiais e até sistemáticos oferecidos pelas universidades, e, mesmo assim, me parece que essa oferta, já grande para uma cidade como Goiânia, ainda não se traduziu num avanço da nossa preocupação com duas coisas: a linguagem e a distribuição. Se fala muito que não se tem um esquema de distribuição, e se pensa sempre no outro, esquecendo-se que nós, cineastas, temos a nossa responsabilidade. O cineasta tem uma disponibilidade grande para vir ao Fica, mas não está disponível para ir às escolas, atender aos pedidos da mídia, dos centros comunitários, das universidades... Um exemplo concreto disso você pode ter conversando com o pessoal da Cara Vídeo, que tem uma experiência grande com uma distribuição absolutamente politizada. Esse é um trabalho de formiguinha, do dia-a-dia, e que pode se consolidar.

A existência de prêmios especiais para os filmes goianos no Fica mais prejudica ou ajuda a produção local?

É prejudicial porque nos acomoda, mas é uma faca de dois gumes. Não sei se essa reserva - vamos dizer assim - não se justifica. Existe reserva no mundo inteiro. Hollywood é uma grande reserva. Acredito que é preciso ver também o aspecto da crítica. A última vez que fiz uma crítica sobre cinema brasileiro e curta-metragem foi no primeiro Goiânia Mostra Curtas. E foi duro. Fazer uma crítica sobre o que acontecia no cinema brasileiro era fácil. Mas quando cheguei para falar dos filmes de Goiás, tremi nas bases. Todos os meus amigos estavam ali. Temos hoje várias pessoas dentro e fora da universidade e pode-se contar nos dedos quem se dispõe a fazer uma crítica da nossa produção geral ou de algum produto em particular. Esse também é um problema. Talvez os professores digam: "Não temos obras com valor suficiente para estimular a crítica". Tudo bem. Mas eu queria que eles falassem isso. Acho que as pessoas deveriam pelo menos dizer por que se faz crítica de filme de fora e não de filme daqui. Existe, por exemplo, uma crítica freqüente sobre a literatura goiana. As críticas de cinema existem, mas são esporádicas.

2 comentários:

Juliana Albuqueque disse...

Muito bom. Já estou curiosa pra ver o documentário.

waltim^^ disse...

Queria ter ido ao lançamento do filme, mas fui premiado conhecendo pessoalmente o belem, estou ansioso para assistir o filme!
bela reportagem =D