O chefe entrou na sala e jogou sobre a mesa um livro. Típico dele. Fascinado por livros, comprador compulsivo e presenteador generoso, Vassil gosta de sempre dividir seu entusiasmo por algum novo achado nas livrarias. Era esse o caso. Olhei para a capa - Criando Kane e Outros Ensaios - e percebi que se tratava de uma coletânea assinada pela crítica de cinema americana Pauline Kael. Já fui logo perguntando: "É pra mim?" Ele, meio constrangido, não soube dizer não: "É, fique com ele, estava em promoção lá na Livraria Leitura".
Agradeci pelo presente inesperado e já comecei a ler.
Pauline Kael, que escreveu para The New Yorker (templo do Novo Jornalismo) por quase um quarto de século, é uma das mais controversas e populares críticas de cinema da história. Já na abertura de Criando Kane, ela dispara dois ou três petardos:
"Este é um livro especulativo. Digo um bocado de coisas arriscadas, e digo-as com uma linguagem cheia de gírias, às vezes provocadoras - pois quem pode afirmar, com alguma certeza, como devemos falar dos filmes dos quais mais gostamos? Os filmes são uma diversão tão alegre (...) que sabemos que não são apenas lixo. E de uma tão correta sensualidade (...) que arrasam nossas exigentes ansiedades sobre o lugar que ocupam em comparação com as grandes obras de outras artes."
"(...) Quando os filmes são bons, nos fazem sentir mais vivos, e escrever sobre eles tem o mesmo efeito."
Crédito da foto: James Hamilton
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