terça-feira, 24 de novembro de 2009

Notícia / Oportunidade para conhecer cinema português


O longa "Crônica dos Bons Malandros" (1984) e o curta "Tatana" (2005) abrem a II Mostra do Cinema Português na segunda, 30 de novembro. Até 17 de dezembro, mais oito filmes se revezam no Cine Goiânia Ouro, em três ou quatro sessões diárias ao custo de R$ 1.

O curador da mostra é o cinéfilo Rafael Parrode. "Enquanto a primeira edição da mostra [realizada em setembro e outubro] se preocupou mais em exibir filmes considerados de arte, de vanguarda, com cineastas prolíficos como Manoel de Oliveira, Pedro Costa e João César Monteiro, essa segunda edição traz filmes de apelo mais popular, ainda que sejam filmes que fujam bastante do que é produzido no gênero ao redor do mundo", explica.


Confira a programação completa:

Dia:
30 de novembro
Filmes: "Crônica dos Bons Malandros" (1984, 79min) / “Tatana” (2005, 15min)
Horários: 12h30, 15h, 18h e 20h30

Dia: 1º de dezembro
Filme: "A Passagem da Noite" (2003, 95min)
Horários: 12h30, 15h, 18h e 20h

Dia: 2 de dezembro
Filme: "O Leão da Estrela" (1947, 113min)
Horários: 12h30, 15h, 18h e 20h30

Dia: 3 de dezembro
Filme: "Coisa Ruim" (2006, 100min)
Horários: 12h30, 15h, 18h e 20h

Dia: 4 de dezembro
Filme: "O Bobo" (1987, 123m)
Horários: 12h30, 15h, 18h e 20h30

Dia: 5 de dezembro
Filme: "Filha da Mãe" (1990, 105min)
Horários: 12h30, 15h, 18h e 20h

Dia: 6 de dezembro
Filme: "The Lovebirds" (2007, 83min)
Horários: 12h30, 15h, 18h e 20h30

Dia: 7 de dezembro
Filme: “O Delfim” (2000, 88min)
Horários: 12h30, 15h, 18h e 20h30

Dia: 8 de dezembro
Filme: "Peixe-Lua" (2000, 119min)
Horários: 12h30, 15h, 18h e 20h30

Dia: 9 de dezembro
Filmes: "Crônica dos Bons Malandros" (1984, 79min) / “Tatana” (2005, 15min)
Horários: 12h30, 15h, 18h, e 20h30

Dia: 10 de dezembro
Filme: "A Passagem da Noite" (2003, 95min)
Horários: 12h30, 15h e 18h

Dia: 11 de dezembro
Filme: "O Leão da Estrela" (1947, 113min)
Horários: 12h30, 15h, 18h e 20h30

Dia: 12 de dezembro
Filme: "Coisa Ruim" (2006, 100min)
Horários: 12h30, 18h e 20h30

Dia: 13 de dezembro
Filme: "O Bobo" (1987, 123min)
Horários: 12h30, 15h 18h e 20h30

Dia: 14 de dezembro
Filme: "Filha da Mãe" (1990, 105min)
Horários: 12h30, 15h, 18h e 20h30

Dia: 15 de dezembro
Filme: "The Lovebirds" (2007, 83min)
Horários: 12h30, 15h, 18h e 20h30

Dia: 16 de dezembro
Filme: “O Delfim” (2000, 88min)
Horários: 12h30, 15h, 18h e 20h30

Dia: 17 de dezembro
Filme: "Peixe-Lua" (2000, 119min)
Horários: 12h30, 15h, 18h e 20h30

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

"Ressignificar": tema ousado, forma convencional


Vencedor do troféu José Petrillo para melhor produção goiana no XI Festival de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica) e exibido na 9ª Goiânia Mostra Curtas, Ressignificar levanta uma discussão interessante sobre a possibilidade de se “reciclar” o cinema, dando novos sentidos a imagens já captadas e reduzindo, consequentemente, o impacto da atividade no meio ambiente.

Em cerca de 15 minutos, o documentário da realizadora Sara Vitória entrevista cineastas e outros profissionais ligados à produção audiovisual na região Centro-Oeste para mostrar que dá pra criar o novo a partir do velho. Nomes como Joel Pizzini, Lourival Belém Jr. e Cláudia Nunes dão seus depoimentos. Para reforçar o argumento, Sara lança mão de trechos de filmes exemplares nesse sentido: os curtas goianos Rapsódia do Absurdo e Concerto da Cidade são dois deles. Arrisca, ainda, interferências gráficas nas imagens: mudança de colorido para preto e branco, avanço ou retrocesso rápido etc, com o objetivo de ilustrar as falas.

Coerente? Sim. Mas óbvio? Com certeza. Apesar de denunciar a existência de uma mente inquieta na concepção do trabalho, o didatismo de Ressignificar atrapalha seu discurso em favor da exploração poética do cinema. Em resumo, a forma convencional não acompanha a ousadia temática do filme. Indica, isso sim, o potencial de uma realizadora que se dispõe a pensar o “fazer cinematográfico”. Não é pouca coisa.

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PS: Texto escrito para o seminário de Crítica de Cinema da 9ª Goiânia Mostra Curtas.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Dica de curta-metragem: "O Sanduíche"


Visto agora, nove anos depois de seu lançamento, O Sanduíche (2000) impressiona por seu vigor e criatividade. Ao lado de Ilha das Flores (1989), é o melhor registro da origem de um talento, o do diretor gaúcho Jorge Furtado, que se reafirmaria nos anos seguintes em trabalhos para a televisão (roteiros de minisséries como Caramuru – A Invenção do Brasil) e para o cinema (O Homem que Copiava, Meu Tio Matou um Cara e outros).

Multipremiado, O Sanduíche começa com a despedida melancólica de um casal. A câmera fixa, a iluminação intimista e o clima pesado compõem o quadro de um relação agonizante. Pouco tempo depois, uma deixa na fala da co-protagonista desencadeia um processo que põe em xeque a impressão de realidade — tão cara ao cinema clássico — e instaura no filme um novo estado de espírito. Em outro momento, a câmera se desloca voluntariamente e os planos se alternam com rapidez, criando a sensação de uma conversa dinâmica — uma relação nova e viva que se inicia.

Aqui, a forma (montagem, iluminação, etc) está a serviço do conteúdo (enredo) tanto quanto o conteúdo está a serviço da forma.

Como uma língua de sogra impulsionada pelo sopro do diretor, o filme se desenrola em outras camadas de linguagem e níveis de representação. Fim e início, realidade e ficção: o jogo de opostos conduz o espectador a uma reflexão sobre o universal do amor e o específico da arte. O sanduíche que dá título ao filme, item aparentemente despretensioso no enredo do curta, corre de mão em mão para mostrar que o sabor depende do paladar de quem saboreia, assim como o sentido de uma imagem depende do ponto de vista de quem vê.

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Para assistir ao filme, entre no site do Porta Curtas. Lá você encontra também o roteiro de O Sanduíche e informações sobre outros títulos.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Um olhar sobre o cinema português

De hoje, 28, até a próxima segunda, 5, fica em cartaz no Goiânia Ouro a mostra "Olhar sobre o Cinema Português". São oito filmes, um por dia, sempre em três horários: 12 horas, 15 horas e 20 horas (exceção para o dia 2, quando a última sessão começa às 19h30). Ingresso: R$ 1,00.

A curadoria é do cinéfilo Rafael Parrode, que garante: embora em DVD, as cópias estão com boa qualidade de projeção.

Programação

Dia 28/09 - Casa de Lava (Pedro Costa, 1994)
Dia 29/09 - Odete
(João Pedro Rodrigues, 2005)
Dia 30/09 -
Tráfico
(João Botelho, 1998)
Dia 1º/10 -
Uma Abelha na Chuva
(Fernando Lopes, 1971)
Dia 2/10 -
Vai e Vem
(João César Monteiro, 2003)
Dia 3/10 -
Branca de Neve
(João César Monteiro, 2000)
Dia 4/10 -
Ossos
(Pedro Costa, 1997)
Dia 5/10 -
Non ou A Vã Glória de Mandar (Manoel de Oliveira, 1990)

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Entrevista / Francisco Elinaldo Teixeira


"O documentário é o
laboratório de experimentação
da linguagem audiovisual"

Professor de cinema na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo, Francisco Elinaldo Teixeira é uma referência nacional em matéria de documentário. Graduado em Ciências Sociais e pós-doutorado em Artes, tem dois livros publicados: Documentário no Brasil - Tradição e Transformação e O Terceiro Olho: Ensaios de Cinema e Vídeo. Durante o XI Festival de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), realizado em junho, ministrou uma oficina sobre o assunto e participou do júri oficial da mostra competitiva. Entre uma aula e uma sessão de filmes, conversou a reportagem. Contou que gosta de andar e fotografar a Cidade de Goiás, e que o fragmento do barroco presente ali o transporta para o século XVII. Esse olhar curioso Elinaldo usa também para desenvolver um trabalho artístico de colagem. “É algo bem pessoal. Não gosto de exposição”, explica. A atividade, porém, é quase uma ilustração prática de sua definição teórica para arte: “A arte se move entre dois extremos: de um lado, fugindo do consenso, do que já está dado; de outro, tentando dar uma forma ao caos”.

Você costuma dizer que o documentário é um renovador da cultura audiovisual. Já ouvi também que o documentário brasileiro hoje é mais importante que a ficção. Qual é exatamente o papel do documentário no cinema brasileiro hoje?
O documentário tem esse relevo no mundo inteiro. Isso em função de uma história em que o documentário sempre foi peça menor e meio chata dentro da cultura audiovisual. Dos anos 80 em diante, isso muda, por uma série de razões, e num momento em que o grande burburinho é em torno da saturação da cultura audiovisual: excesso de exibição, de amostragem... O documentário entra aí e começa a ganhar relevo, operando uma renovação muito grande. Há uma reiteração da tradição documental, ou seja, das escolas, dos movimentos, das estilísticas anteriores, mas com um dado novo: o documentário se volta, depois de explorar o outro durante décadas, para o trabalho sobre si mesmo e sobre o próprio entorno. É uma problemática teórica que vem dos anos 70: a ideia do cinema subjetivo. No Brasil, o marco dessa renovação é o Cabra Marcado para Morrer [1985], do Eduardo Coutinho. Cabra Marcado foi um documentário que circulou nos cinemas naquele momento. O espectador começou a se relacionar com o documentário como uma peça artística de universo próprio, autônomo, exclusivo. Isso foi se adensando nos anos 90 e na entrada dos anos 2000. No caso do Brasil, o documentário tem hoje um papel que tem também no contexto mundial: o da renovação da linguagem audiovisual. Mas não sei se ele seria mais importante que a ficção.

Seria mais ousado que a ficção?
O documentário é, hoje, o laboratório de experimentação da linguagem audiovisual. E isso tem enorme importância. Há um trabalho de renovação permanente.

A ficção frequentemente busca no documentário elementos para renovar a sua própria linguagem. O que a ficção quer do documentário: a aura de verdade, a diversificação de elementos visuais...?
É um fato curioso. Na história do documentário essas trocas e experimentações entre ficção e documentário nunca cessaram. Há um momento de grande afastamento, que são os anos 20, momento de fundação dos vários domínios do cinema. No pós-guerra, com o neorrealismo, há uma reaproximação. Numa escola como a do cinema autoral, há uma tentativa de mostrar que é besteira pensar os domínios ficcional e documental como opostos. Há, num cineasta como [Jean-Luc] Godard, a ideia de que são dois momentos da realização cinematográfica presentes no mesmo filme e em troca sempre muito intensa. Nos anos 20, os franceses têm uma proposição fundamental: o documentário como um ponto de vista documentado. E Godard, quando fala que os dois momentos estão presentes no filme, pensa sempre nessa proposição do Jean Vigo: a ideia de que o filme, por mais ficcional que seja, é a documentação de um olhar, de uma perspectiva sobre as coisas, o mundo, a realidade... Acontece que, dos anos 80 pra cá, essas trocas se tornaram mais intensas. Por conta desse relevo e dessa ampliação e expansão da audiência que o documentário ganha, a ficção vai um pouco atrás disso para renovar as suas formas. Nos anos 20, o documentário também foi buscar [elementos] na ficção. Hoje em dia a oposição entre realidade e ficção, que antes foi tão marcante para diferenciar esses domínios, não faz mais o menor sentido. Já se ultrapassou esse debate.

A própria definição de documentário hoje é complexa. É possível definir o que é documentário em poucas palavras?
As definições, quando muito, servem como orientação. O documentário mantém, sim, a sua singularidade enquanto domínio do cinema. De certa forma, hoje se mantêm os três grandes domínios formados nos anos 20: o ficcional, o documental e o experimental. Só que as fronteiras são menos visíveis, o que não significa que haja confusão. Não gosto da ideia de confusão, no sentido de que não se pode mais distinguir as coisas. Isso é loucura. As fronteiras hoje são menos visíveis e as trocas, muito intensas. Às vezes, dentro do mesmo filme, tem-se os três domínios operando trocas entre si. Há hoje, no plano teórico e acadêmico, um consenso mínimo a respeito do documental: essa ideia bem fundamental de que o documentário opera com asserções sobre o mundo. Isso não é específico do documentário, mas o documentário faz isso de uma maneira muito particular: o corpo a corpo do cineasta-câmera com a realidade histórica e natural é bastante visível.

O documentário brasileiro tem uma identidade própria?
É preciso ver isso sob o ponto de vista histórico. Quando Glauber Rocha escreve Revisão Crítica do Cinema Brasileiro (publicado pela primeira vez em 1963), ele coloca a mobilização em torno da realização do documentário como fundamental para a emergência do Cinema Novo. Destaca, basicamente, dois grandes documentários do final dos anos 50 e início dos 60: Aruanda, do Linduarte Noronha, e Porto das Caixas, do Paulo César Saraceni. Esses documentários foram todos feitos com uma base técnica pré-moderna, ou seja, sem sincronização entre imagem e som. O que era moderno nesses documentários então? Segundo Glauber, era o modo de recortar a realidade brasileira. São documentários que elaboram uma visão da realidade brasileira de maneira dialética, conforme o trabalho intenso do pensamento daquele momento, as diversas correntes de esquerda... No final dos anos 50, momento em que se opera no mundo todo a renovação do documentário clássico com o documentário moderno, no caso internacional com a fetichização da base técnica, o Glauber vai dizer: “Não, não precisa da base técnica. Ela não é tão determinante assim. No Brasil não se tem essa base técnica e no entanto há uma renovação numa linha bastante moderna do documentário”. O próprio Glauber, nos anos 70, faz um documentário revolucionário do ponto de vista da linguagem [Di Cavalcante Di Glauber], antecipador do documentário contemporâneo em muitos aspectos, com uma base pré-moderna. Ou seja, a limitação técnica nunca foi uma limitação para a criação.

Hoje o acesso a tecnologia é fácil. Muita gente tem uma câmera digital no celular, por exemplo, e são produzidas imagens aos borbotões. Essa revolução tecnológica tem impacto importante no campo da estética?
É quase impossível pensar na questão da imagem na modernidade sem levar em conta a relação entre a técnica e a arte. Da modernidade pra cá, a intimidade entre esses dois elementos se tornou muito intensa. O que acho, e aí volto na questão de que as coisas mantêm sua singularidade apesar da diluição das fronteiras, é que a relação entre a arte e a técnica hoje é muito mais complexa. Há toda essa discussão sobre a saturação da cultura audiovisual. E um dos elementos dessa saturação é a ideia de que a reprodutibilidade técnica assumiu o controle do processo de criação. Seguindo a linha do Walter Benjamin, a cultura audiovisual se democratizou muito mais, mais pessoas podem criar peças audiovisuais, mas é preciso manter uma série de critérios para distinguir o que é arte nessa floresta de produções que a tecnologia propicia hoje, da internet às câmeras digitais. Nem tudo é arte. Arte é pensamento. E o que faz o pensamento? O pensamento opera em duas condições impostas pelo mundo exterior: de um lado, tem-se o caos, caos como impossibilidade de dar forma às coisas devido ao movimento intenso que pressupõe uma situação caótica sempre; de outro lado, tem-se o estabelecido, o senso comum, o bom senso, o consenso, o que é dado. A arte se move entre esses dois extremos. De um lado fugindo do consenso, do que já está dado, e fugindo no sentido de que não tem nada de arte em simplesmente reiterar o que já está dado. De outro lado, tentando dar uma forma a esse caos, que é um desafio o tempo inteiro.

Você participa de vários outros festivais além do Fica. De forma geral, que avaliação faz da produção que circula nesses eventos?
No campo ambiental, existe um militantismo muito forte já há três ou quatro décadas. Num festival como esse, em que se tem que escolher 27 filmes de um peneiramento de 500, entre longas, médias e curtas, tem-se um conjunto desses filmes que trata a questão ambiental de um ponto de vista exclusivamente ambiental, sem grandes preocupações com a questão formal e estética, ou seja, privilegiando o conteúdo e, portanto, uma dicotomia que não faz mais o menor sentido, que é a oposição entre forma e conteúdo. Isso foi superado já no começo da modernidade. A ideia de que não há arte revolucionária sem forma revolucionária, que vem lá dos russos, [o poeta Vladimir] Maiakóvski... Concordo plenamente com isso. E num festival como esse você tem um conjunto de filmes ainda muito marcado por essa dicotomização, um militantismo em relação à questão ambiental que acaba tornando inócuo o próprio trabalho da realização. Quase sempre são filmes com uma incontinência discursiva muito grande: as pessoas falam, falam, falam, dão depoimento, dão entrevista, vai pro especialista, volta pra vítima... Repetem uma linha documental muito marcante na escola inglesa, do começo do cinema documentário. O pensamento e a produção do documentário inglês é conduzido por John Grierson nesse sentido: de uma grande vitimização das personagens. Isso se reitera muito nesses documentários sobre a questão ambiental, e de uma forma prejudicial à eficácia do discurso. Quase sempre são filmes feitos por ambientalistas com pouca preocupação estético-formal. São realizadores muito preocupados com a questão da comunicação, a ideia de que tem que passar uma mensagem, dar uma informação... Uma certa fetichização da comunicação. Bom, e isso num momento em que a ideia de comunicação se complexificou, ficou sofisticada. Hoje se dispõe de um mundo de informação que precisa ser filtrado, selecionado, elaborado. Não pode mais ser uma comunicação tão direta, sem mediação. Nesse ponto, a dimensão formal e estética é fundamental pra eficácia disso que é mais defendido. No caso dos cineastas vindos da formação propriamente audiovisual e trabalhando a temática ambiental, há um equilíbrio maior entre a preocupação com a comunicação e o como fazer isso. Nessa mostra atual do Fica, isso é muito visível: de um lado, filmes feitos por cineastas com conhecimento de causa que vão pra área ambiental, tentando equilibrar as duas dimensões [estética e formal]; de outro, filmes de quem vem da área ambiental, com dificuldade de lidar com a questão formal e estética do cinema. No conjunto, esses são os piores filmes. Às vezes acho que eles prestam um desserviço à questão ambiental.

Pra onde caminha o documentário nesses anos 2000?
Nos anos 2000, uma novidade que há em relação à década anterior — momento de grande renovação do documentário — gira em torno de dois debates. Uma debate mais restrito diz respeito a uma estilística que se vem nomeando de forma muito imprópria como documentário autobiográfico, de autoretrato, para alguns poético, para outros ensaístico, performático... A tendência maior hoje do documentário é a pesquisa e a investigação na linha do entorno do cineasta. É como se, de repente, o documentarista se tornasse um antropólogo de si mesmo, seguindo aí uma mudança muito grande no campo das ciências humanas do pós-guerra pra cá. Antes havia a preocupação com o outro, com o exótico, com o distante. Filmar o outro sempre foi um tema do documentário. E de repente, com a reemergência do valor do documentário nos anos 80, se distingue muito a preocupação com o próprio entorno. Considero que é onde se produz hoje os documentários mais instigantes, mais inquietantes, que desafiam mais o trabalho de criação. Por outro lado, há a continuidade. Estamos falando sempre de tradição e transformação. Tradição, continuidade da tradição e transformação da tradição. Tem-se hoje, aqui mesmo no Fica, documentários que você olha e pensa: “Nossa, isso é anos 20, anos 30”. Pra gente ver também como isso é eficaz... Ele se mantém com grande interesse pra um determinado tipo de público. É o que chamo de documentários mais institucionais. Outros teóricos chamam de documentário-cabo, no estilo das TVs fechadas, National Geographic. BBC de Londres, documentários mais tradicionais, com a voz do saber, o voice over, comandando o processo. Ou seja, a questão da informação e da comunicação colocada de maneira privilegiada. São documentários bastante centrados no conhecimento prévio que o documentarista tem da realidade, e que o processo do filme não altera, só reitera. São documentários em que a imagem, que deveria ter privilégio, às vezes é acessório da palavra. Quando falo de heterogeneidade, é a presença dessas várias tendências e estilísticas. O problema em relação às tendências mais tradicionais é que, embora a cultura estimule muito hoje o diálogo com a tradição, esse diálogo precisa ser crítico. A tradição é importante, mas não se pode ficar só na reiteração e na reprodução da tradição. É o que chamo de documentários de descoberta, por um lado, e de invenção, por outro. No documentário de descoberta, o documentarista descobre uma estilística como se aquilo fosse uma novidade e às vezes não consegue sair disso. Já o documentário de invenção mantém uma relação muito mais crítica e rica com a tradição. Ou seja, partindo do que foi dado pela tradição, renova essa tradição. Não esquece que o repertório cultural anterior é importante, mas que é preciso ultrapassá-lo.

Quais documentaristas brasileiros fazem trabalhos de destaque hoje?
Eduardo Coutinho e João Moreira Salles são dois cineastas bastante afinados, ao longo de suas obras, com as estilísticas modernas do cinema direto e do cinema verdade. Eles reiteram e renovam esse repertório anterior. Na nova geração, há documentaristas que, às vezes no primeiro filme, já entram nessa corrente do documentário contemporâneo. E aí eu considero uma inovação grande no documentário brasileiro dois filmes: 33, do Kiko Goifman, e Um Passaporte Húngaro, da Sandra Kogut. São filmes de 2002 e 2003 que talvez tenham introduzido, em relação à década anterior — que acaba com grandes filmes, Santo Forte, do Eduardo Coutinho, Notícias de uma Guerra Particular, do João Moreira Salles, e Sobre os Anos 60, do Jean-Claude Bernardet... Esses dois filmes (33 e Um Passaporte Húngaro) inauguram uma coisa mais atual, que é essa questão de fazer uma antropologia de si mesmo. São hoje referenciais pra esse tipo de estilística. Tem um cineasta do Mato Grosso do Sul, o Joel Pizzini, que vem fazendo um trabalho importante tanto na área de documentário como de ficção, mas sobretudo de documentário. 500 Almas é um documentário importante nessa segunda metade de década. Quem mais? Lucas Bambozzi e os mineiros que vêm da videoarte, como Cao Guimarães. Eles usam o repertório da videoarte para renovar o documentário e estão muito presentes nesse começo de milênio.


Obs. 1: Entrevista publicada originalmente (e resumidamente) na Tribuna do Planalto.
Obs. 2: Crédito da foto para Marcos Roberto dos Santos.

Notícia / Mostra de vídeo indígena no Centro de Convenções

De sexta a domingo, 11 a 13 de setembro, a ABD-GO e o Sebrae-GO promovem a mostra Vídeo nas Aldeias. Seis trabalhos de cineastas indígenas vão ser exibidos no Centro de Convenções de Goiânia, sempre das 18 às 22 horas, dentro da programação da Feira do Empreendedor. Todos os dias, após as exibições, os realizadores conversam com o público.

O projeto Vídeo nas Aldeias (VNA) foi criado em 1987 pela organização não-governamental Centro de Trabalho Indigenista. "O objetivo do projeto foi, desde o início, apoiar as lutas dos povos indígenas para fortalecer suas identidades e seus patrimônios territoriais e culturais, por meio de recursos audiovisuais e de um produção compartilhada com os povos indígenas com os quais o VNA trabalha."

A primeira experiência nesse sentido foi conduzida por Vincent Carelli entre os índios Nambiquara. Só relembrando: Carelli e o seu Corumbiara venceram o XI Festival de Cinema e Vídeo Ambiental, na Cidade de Goiás, em junho, e o 37º Festival de Gramado, em agosto.


SERVIÇO
Evento: ABD-GO - Mostra Vídeo nas Aldeias.
Data: 11 a 13 de setembro 2009.
Horário: 18 às 22 horas.
Local: Centro de Cultura e Convenções de Goiânia - Feira do Empreendedor.
Entrada: Franca.


PROGRAMAÇÃO
 
Dia 11
"Nguné Elü, o dia em que a lua menstruou"
2004 / 28min. / Kuikuro
Durante uma oficina de vídeo na aldeia kuikuro, no Alto Xingu, ocorre um eclipse. De repente, tudo muda. Os animais se transformam.O sangue pinga do céu como chuva. O som das flautas sagradas atravessa a escuridão. Não há mais tempo a perder. Épreciso cantar e dançar. É preciso acordar o mundo novamente. Os realizadores kuikuro contam o queaconteceu nesse dia, o dia em que a lua menstruou.
"Xinã Bena, novos tempos"
2006 / 52min. / Hunikui (Kaxinawá)
Dia-a-dia da aldeia Hunikui de São Joaquim, no rio Jordão no estado do Acre. Augustinho, pajé e patriarca da aldeia, sua mulher e seu sogro, relembram o cativeiro nos seringais e festejam os novos tempos. Agora, com uma terra demarcada, eles podem voltar a ensinar as suas tradições para seus filhos e netos.

Dia 12
"Kahehijü Ügühütu, o manejo da câmera"
2007 / 17min. / Kuikuro
O cacique Afukaká, dos índios Kuikuro no Alto Xingu, conta a sua preocupação com as mudanças culturais da sua aldeia e seu plano de registro das tradições do seu povo, e os jovens cineastas indígenas narram a sua experiência neste trabalho.
"Mokoi Tekoá Petei Jeguatá – duas aldeias, uma caminhada"
2008 / 63min. / Guarani-Mbya
Sem matas para caçar e sem terras para plantar, os Mbya-Guarani dependem da venda do seu artesanato para sobreviver. Três jovens Guarani acompanham o dia-a-dia de duas comunidades unidas pela mesma história, do primeiro contato com os europeus até o intenso convívio com os brancos de hoje.

Dia 13
"Imbé Gikegü, cheiro de pequi"
2006 / 36min. / Kuikuro
É tempo de festa e alegria no Alto Xingu. A estação seca está chegando ao fim. O cheiro de chão molhado mistura-se ao doce perfume de pequi. Mas nem sempre foi assim: se não fosse por uma morte, o pequi talvez jamais existisse.Ligando o passado ao presente, os realizadores kuikuro contam uma estória de perigos e prazeres, de sexo e traição, onde homens e mulheres, beija-flores e jacarés constroem um mundo comum.
"Shomõtsi"
2001 / 42min. / Ashaninka
Crônica do cotidiano de Shomõtsi, um Ashenika da fronteira do Brasil com o Perú. Professor e um dos videastas da aldeia, Valdete retrata o seu tio, turrão e divertido.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Notícia / Agepel lança edital de curta-metragem


Começa na próxima terça-feira, 8 de setembro, o prazo para inscrição de projetos concorrentes ao Prêmio de Cinema e Vídeo de Curta-Metragem da Agepel. A Agência Goiana de Cultura vai distribuir um total de R$ 400 mil para a produção de cinco obras audivisuais inéditas com até 15 minutos de duração. São R$ 80 mil para cada trabalho, com repasse em duas parcelas: a primeira de R$ 48 mil e a segunda de R$ 32 mil, depois de 90 dias.

As propostas estão sujeitas a algumas regras. Uma delas é que não podem ter recebido dinheiro de nenhuma lei de incentivo, programa ou concurso do poder público. Outra diz respeito a equipe técnica e elenco: pelo menos 70% dos profissionais devem residir no Estado há dois anos. Mais: "O projeto deve ser encaminhado em cinco vias juntamente com o requerimento de inscrição, sinopse, abordagem do tema em três laudas no máximo, roteiro, estrutura de produção, orçamento detalhado, cronograma de realização, currículo do proponente e termo de compromisso assinado, entre outros aspectos".

O prazo de inscrição termina no dia 23 de outubro.

Informações gerais, edital e ficha de inscrição, clique aqui.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Notícia / Cinema francês no Bougainville


De hoje a terça, 3 a 8 de setembro, o Cinema Lumière do Shopping Bougainville recebe o festival "Passado e Presente do Cinema Francês". O evento é fruto de uma parceria entre a Associação Bem-te-vi, a produtora Armazém Du Film, a Embaixada da França no Brasil e o Ministério da Cultura. Integra a programação do Ano da França no Brasil.

O ingresso tem valor diferenciado na mostra: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
PROGRAMAÇÃO
  • Dia 3, quinta-feira
    20 horas - Abertura oficial para convidados, com exibição de Oktapodi (Vários, 2007, 3min, animação) e Bem-vindo (Philippe Lioret, 2009, 110 min, ficção)

  • Dia 4, sexta-feira
    15 horas - O Rei e o Pássaro (Paul Grimault, 1980, 81 min., ficção)
    17 horas - O Pequeno Tenente (Xavier Beauvois, 2005, 110min., ficção)
    19 horas - 68 Não Para (Fred Higelmann, 2008, 56min., documentário). Debate com o diretor Fred Higelmann
    21 horas - Oktapodi (Vários, 2007, 3 min.) e Sensual Demais (Jean-Marc Barr e Pascal Arnold, 2000, 100min., drama)

  • Dia 5, sábado
    15 horas -
    Sessão Crianças no Cinema: Brinquedo Proibido (René Clément, 1952, 86min, ficção)
    17 horas - Filmes contemporâneos: Les Yeux au Plafond (Mathieu Amalric, 1993, 16min, ficção) e Le Pain et Le Lait (Carim Azeddine e Xavier De La Veja, 2007, 56min, documentário). Sessão seguida de debate com Azeddine e De La Veja
    19 horas - Crianças no Cinema: Zero em Comportamento (Jean Vigo, 1933, 41min., ficção) e Sur les Traces de Gustave Eiffel (Charles Berling, 2009, 52min, documentário)
    21 horas - Chacun sa Nuit (Pascal Arnold e Jean-Marc Barr, 2006, 95min, drama)

  • Dia 6, domingo
    15 horas - Pickpocket (Robert Bresson, 1958, 75min, ficção)
    17 horas - L’Entre Deux (Marcelo Novais Teles, 2007,10min, ficção) e L’Épreuve des Urnes (Fred Hilgemann, 2007, 52min, documentário). Sessão seguida de debate com o diretor Fred Hilgemann
    19 horas - Crianças no Cinema: Guerra dos Botões (Yves Robert, 1962, 90min, ficção)
    21 horas - Oktapodi (Vários, 2007, min, ficção) e A Questão Humana (Nicolas Klotz, 2007, 143min, ficção)

  • Dia 7, segunda-feira
    15 horas - Fla-Flu (Pierre Goismier, 2003, 52min., documentário) e Não há Stress em Speluncatu (Marcelo Novais Teles, 2008, 52min., documentário)
    17 horas - Meu Tio (Jacques Tati, 1958, 117min, ficção)
    19 horas - Crianças no Cinema: Le Vieil Homme et L’Enfant (Claude Berri, 1967, 90min, ficção)
    21 horas - Um Petit Bol D’Air (Marcelo Novais Teles, 2007, 8min) e Mange ta Soupe (Mathieu Amalric, 1997, 75 min, ficção)

  • Dia 8, terça-feira
    15 horas - Lola (Jacques Demy, 1961, 85min, ficção)
    17 horas - Reis e Rainha (Arnaud Desplechin, 2004, 150min, ficção)
    20 horas - Oktapodi (Vários, 2007, 3min, animação) e Sobre Meus Lábios (Jacques Audiard, 2001, 115min, ficção)

    Fonte: Goiasnet

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Notícia / Selecionados da Goiânia Mostra Curtas


Acabam de ser divulgados os filmes selecionados para a 9ª Goiânia Mostra Curtas, de 6 a 11 de outubro, no Colégio Santo Agostinho.

Na Mostra Curta Goiás, de corte regional, estão muitos nomes conhecidos e alguns filmes exibidos no XI Fica. Estão lá, por exemplo, os vencedores dos troféus José Petrillo e João Bennio, de melhores produções goianas: A Próxima Mordida, de Ângelo Lima, e Ressignificar, de Sara Vitória. Outro goiano que concorreu no Fica, mas não levou, volta a ser exibido: Graffiti em Ruínas e Outros Muros, de João Novaes. Cattum, de Paulo Miranda, premiado na 7ª Mostra ABD Cine Goiás, também marca presença.

Há ainda nomes interessantes que podem fazer bonito. Um deles é o da professora Rosa Berardo, selecionada com o seu Hip Hop em Goiás. Outro, Luiz Eduardo Jorge, premiado no Fica de 2003 por Césio 137 - O Brilho da Morte e que volta agora com Rosa: Uma História Brasileira.

Para ler a lista completa, contemplando oito categorias, vá à página do evento.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Notícia / Inscrições para oficinas da Goiânia Mostra Curtas


A organização da 9ª Goiânia Mostra Curtas acaba de abrir inscrições para um seminário e três oficinas na área de cinema.

O seminário, de "Crítica de Cinema", tem coordenação do jornalista Marcelo Lyra. São 30 vagas para aulas nos dias 1º, 2, 3 e 5 de outubro, das 14 às 18 horas, no Centro Cultural Caravídeo. Além de falar um pouco sobre história e técnica do cinema e da crítica cinematográfica, Lyra propõe um lado prático para o curso, que é a cobertura jornalística do evento para o site oficial.

As oficinas são: "Direção de Arte e Cenografia", com Ana Paula Cardoso, "Vídeo de Bolso: Faça o Seu", com Nacho Durán, e "Roteiro", com Hilton Lacerda.

Pra saber o conteúdo programático de cada uma delas, dias e horários, e já preencher o formulário de inscrição, clique aqui. O prazo é até 18 de setembro.

Embora o seminário e as oficinas tenham datas e locais diversos, a 9ª Goiânia Mostra Curtas vai de 6 a 11 de outubro de 2009, no Teatro Madre Esperança Garrido (Colégio Santo Agostinho).

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Notícia / Produção local ganha espaço no Cine Cultura

A partir do próximo dia 24, o Cine Cultura vai exibir toda segunda-feira, com entrada franca, uma seleção de vídeos produzidos por realizadores locais.

Quem tiver interesse em mostrar seu trabalho na sala localizada no Centro Cultural Marieta Telles Machado, na Praça Cívica, Centro de Goiânia, deve procurar a gerência do cinema em horário comercial.

Fechado desde novembro de 2008, o Cine Cultura passou por uma reforma e foi reaberto no último dia 7. A sala foi higienizada e passou a contar com som digital.

Mais informações: (62) 3201-4670, com Antônio Segatti Filho.

domingo, 16 de agosto de 2009

Dica de cinema: "Loki - Arnaldo Baptista"

"Dizem que sou louco
Por pensar assim
Se eu sou muito louco
Por eu ser feliz
Mais louco é quem me diz
Que não é feliz, não é feliz"

Autor da antológica estrofe acima, o músico Arnaldo Baptista é tema de um documentário que estreia em Goiânia nesta segunda, 17. Premiado em festivais no Rio e em São Paulo, Loki revela a trajetória do ex-mutante, da infância à atualidade.

O filme tem direção de Paulo Henrique Fontenelle e traz depoimentos de Tom Zé, Sérgio Dias, Nelson Motta, Gilberto Gil, Roberto Menescal, Liminha, Sean Lennon, Nelson Motta e Lobão, entre outros. A produção, finalização e distribuição está a cargo do Canal Brasil.

Serviço
Filme: Loki - Arnaldo Baptista
Local: Cine Goiânia Ouro
Período em cartaz: 17 a 31 de agosto

Dias e horários
Segunda, 17 - 20 horas
Terça, 18 - 12h30 e 15 horas
Quarta, 19 - 20 horas
Quinta, 20 - 15 horas
Sexta, 21 - 12h30 e 20 horas
Sábado, 22 - 12h30
Domingo, 23 - 15 horas
Segunda, 24 - 20 horas
Terça, 25 - 15 horas
Quarta, 26 - 20 horas
Quinta, 27 - 12h30
Sexta, 28 - 20 horas
Sábado, 29 - 20 horas
Domingo, 30 - 12h30, 15 horas e 20 horas
Segunda, 31 - 12h30, 15 horas e 20 horas

Trailer

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Celebrando Michael Mann e "Inimigos Públicos"

Como é bom entrar na sala escura e dar de um cara com um grande filme! Já há alguns meses não encontrava algo que preenchesse a expectativa e motivasse ao menos um sorriso de canto de boca. Pois é o que acontece ao assistir a Inimigos Públicos, de Michael Mann.

Não nos enganemos: Michael Mann faz cinema dentro da indústria. Estão lá quatro dos principais pilares do cinema hollywoodiano: o star system, repres
entado por um elenco capaz de mobilizar imensas plateias (Johnny Depp, Marion Cotillard e Christian Bale); o studio system, cuja poderosa influência é lembrada pela logomarca da Universal Pictures; o roteiro, que não nega a linha clássica, encadeando cenas em direção a um clímax; e o orçamento polpudo, que, nesse caso, chega a US$ 80 milhões.

Dito isso, passemos à frente: dentro do esquema hollywoodiano, Michael Mann é hoje um dos cineastas mais interessantes. Ainda que embalados e vendidos como produtos industriais, seus trabalhos têm estilo e vigor raros mesmo nos filmes mais “artísticos” ou “vanguardistas”.

Um dos ma
iores deleites que se pode ter num filme de Michael Mann, e especialmente em Inimigos Públicos, advém do incrível senso de ritmo e posicionamento de câmera desse diretor, capaz de transportar o espectador para dentro de uma seqüência de ação e quase fazê-lo pular da cadeira. Pode parecer clichê exagerado, mas não é. Não nesse caso. Compare um filme de ação qualquer com um filme de Michael Mann. Tome-se Batman – O Cavaleiro das Trevas, por exemplo. Christopher Nolan é capaz de entreter o público com cenas grandiosas e barulhentas – mas assépticas e mecânicas.

O cinema de Mann não tem nada de burocrático. É vivo e pulsante, tem sabor e cheiro. Seus personagens transpiram e desejam de forma quase palpável. E a ação construída por ele tem a medida exata do ritmo: imagem e som combinados de forma nada menos que vibrante. Em Inimigos Públicos, a apresentação do personagem de Christian Bale, Melvin Purvis, numa caçada humana ao som de "Ten Million Slaves" é exemplar nesse sentido.

Não raro, Mann surpreende o espectador com um ponto de vista inusitado. Sua câmera explora o cenário em busca de ângulos que outros realizadores nem desconfiam que existem. Essa preocupação, porém, não deságua em mero fetichismo técnico ou malabarismo visual. Revela, antes, uma inquietação e uma vontade de explorar as possibilidades do cinema (inclusive no que diz respeito ao suporte, a imagem digital). Ao fim da história, nada ali parece gratuito ou fora de lugar. Pelo contrário. No caso de Inimigos Públicos, o filme dá a sensação de ser até mais enxuto do que sugerem as suas quase duas horas e meia de duração.

Assista ao trailer:



quarta-feira, 29 de julho de 2009

Perro Loco vem aí

Considerado uma das três maiores obras do cinema latino-americano, o documentário Memórias de Subdesenvolvimento (foto) é o primeiro filme a ser exibido na terceira edição do festival Perro Loco, que vai de 25 a 30 de agosto, na Universidade Federal de Goiás. O destaque para o trabalho do cubano Tomás Gutiérrez Alea já coloca o evento num patamar diferenciado. Mas há outras boas surpresas.

Assim como no ano passado, quando trouxe a Goiânia o até então inédito aqui Serras da Desordem, a organização volta a dar atenção ao diretor Andrea Tonacci. Mais três filmes deles têm lugar na programação: Olho por Olho (1966) e Blá, Blá, Blá (1968) e Bang Bang (1970).

Outro ícone do cinema marginal vem a Goiânia especialmente para o festival. Helena Ignez, atriz e diretora, acompanha a exibição de seu Canção de Baal (2008), dia 26, às 9 horas, e ainda participa de dois debates.

Os filmes de Alea, Tonacci, Ignez e Paulo Sacramento, entre outros, compõem a Mostra Paralela. Para a Mostra Competitiva, que recebeu inscrições de 260 filmes de nove países, foram selecionados 13 documentários, sete animações e 21 ficções. Os vencedores de cada categoria recebem prêmios de R$ 1 mil.

Aindo dentro da programação do 3º Perro Loco, há oficinas, palestras e atrações musicais. Notícias sobre o festival e a programação completa estão no site oficial. Acompanhe o evento também pelo Orkut, pelo Twitter e pelo Facebook.

terça-feira, 21 de julho de 2009

O resgate do Rei do Suingue


A melhor parte de Simonal — Ninguém Sabe o Duro que Dei está no uso competente de imagens de arquivo. Graças a um notável trabalho de pesquisa, seleção, corte e mixagem, o protagonista do filme — cantor de grande sucesso nas décadas de 60 e 70 — é reconstruído na tela em todo o seu carisma e talento, suingue e irreverência. Bastam alguns minutos de projeção para que a plateia se entregue ao embalo da “pilantragem” de Simonal, balançando a cabeça e batendo o pé na cadência gostosa da mistura entre samba e soul.

O trabalho de pesquisa histórica é reunido, pela montagem, a interessantes interferências gráficas e uma de série de entrevistas que informam e contextualizam as imagens. Em seus bons momentos, esses depoimentos acrescentam carga dramática ao filme, na medida em que amigos, inimigos, familiares e observadores dos acontecimentos expõem sentimentos ligados ao protagonista e à época.

Isso tudo se dá na primeira metade de Simonal, quando o documentário se dedica a representar o crescimento vertiginoso da carreira do cantor. Na segunda metade, a coisa muda de figura. Ao abordar os motivos que levam à queda do Rei do Suingue, o filme que tendia até então para o musical assume agora o ar de investigação jornalística, que tem os seus problemas.

O maior deles é que esbarra no limite da entrevista. Como instrumento de coleta de informação, a entrevista é um procedimento tão rico quanto precário. Não raro, diz mais sobre o entrevistado que sobre o assunto da conversa. Parece ser justamente isso o que acontece em Simonal. Sem conseguir se aprofundar num processo de apuração efetivo, o filme se apoia num choque de versões que é insuficiente para estabelecer a culpa ou inocência do cantor (e esse nem deveria ser o caso). Expõe, isso sim, a leviandade de muita gente envolvida na história.

É preciso relevar o discurso moralizante, bem como compreender certo conservadorismo estético e baixa autorreflexividade, para detectar em Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei uma contribuição inquestionável: ao olhar com carinho para esse personagem marginal, o documentário certamente ajuda a resgatar a história e a importância do intérprete para o contexto da música brasileira.


OBS: Texto originalmente publicado no blog do professsor Lisandro Nogueira em 5 de julho de 2009. O documentário já não está mais cartaz em Goiânia. Enquanto aguarda o lançamento em DVD, veja um trecho abaixo.


segunda-feira, 29 de junho de 2009

Notícia / Prazo relâmpago para concurso de roteiros do Festcine


Outra pra galera do curta-metragem: já estão abertas as inscrições para o concurso de roteiros do Festcine Goiânia 2009. O prazo é relâmpago: termina nesta sexta, 3. Uma comissão nomeada pela Secretaria Municipal de Cultura vai selecionar cinco projetos nas áreas de ficção, animação e documentário. Cada escolhido recebe R$ 30 mil para produção de um filme de 10 a 20 minutos, captado em beta digital ou analógico, mini-dv ou formato tecnologicamente superior e finalizado em betacam.

Para concorrer, primeiro dê uma passada no site do Festcine e baixe o edital e os anexos. Depois de preencher tudo, entregue a papelada na sede da Secretaria Municipal da Cultura (Avenida 84, nº 535, Setor Sul, Goiânia). O horário de atendimento é das 9 às 12 e das 14 às 18 horas.

O V Festival de Cinema Brasileiro de Goiânia (FestCine Goiânia) está programado para 9 a 16 novembro de 2009, no Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro.

Notícia / Inscrições para Lei Goyazes

Depois de amanhã, dia 1º, a Agepel abre inscrições para novos candidatos à Lei Estadual de Incentivo à Cultura (Lei Goyazes). O prazo termina no dia 14 de julho e, a partir de então, o Conselho Estadual de Cultura tem 90 dias para analisar as propostas. São aceitos projetos para as áreas de música, literatura, artes cênicas, audiovisual, artes visuais, artes integradas, patrimônio e folclore.

Para baixar formulários e obter outras informações, entre no site da Agência Goiana de Cultura. O órgão orienta os interessados a consultarem os informativos disponíveis na página eletrônica, sobretudo a Resolução nº 06 do Conselho Estadual de Cultura.

Segundo a própria Agepel, os 45 projetos já aprovados em 2009 (até maio) tiveram autorização para captar R$ 2,6 milhões. Desse total, o valor aplicado pelas empresas patrocinadoras é de R$ 1,1 milhão, até o momento.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Lourival Belém Jr. de volta à cena


Está previsto para 20 de agosto o lançamento do novo trabalho de Lourival Belém Jr. Fruto de uma parceria entre o Cineclube Antônio das Mortes e a Idéia Produções, Recordações de um Presídio de Meninos é definido pelo cineasta como um documentário ficcional. "É um pouco diferente dos filmes que tenho feito, um caminho que tenho buscado, mais lírico, confessional, poético", explica.

Rodado em preto e branco, o filme tem 30 minutos de duração e está sendo finalizado em mídia digital. Conta a história de um jornalista negro que, alguns anos depois da destruição da Febem, volta para falar da instituição onde foi interno, de sua própria trajetória na época da ditadura e de seus amores. "É um filme que estou fazendo há vinte e tantos anos", revela Belém, já emendando: "Meu trabalho é sempre lento".

Psiquiatra por formação e cineasta autodidata, Belém já prepara outro documentário - na verdade, uma série. "Há quatro ou cinco anos estou filmando o sertão em três locais: um é o sertão do Maranhão, minha origem; outro, o sudoeste goiano, região mais rica do Estado; e outro o nordeste, a região dos Kalunga, a mais pobre". O material filmado já chega à casa das 20 ou 30 horas, segundo ele mesmo. Para cada hora filmada, Belém gasta outras cinco no trabalho de decupagem. "O primeiro documentário deve sair em dois anos", adianta.

Quem conhece As Cidadelas Invisíveis e Concerto da Cidade sabe que deve vir coisa boa por aí.

Ao me encontrar com Belém na Cidade de Goiás, durante o XI Fica, fiz-lhe algumas perguntas. Aqui vão dois trechos da pequena entrevista:

Você concorda que, em Goiás, os realizadores estão muito preocupados em concorrer a prêmios e pouco preocupados em pensar o cinema?

Dez anos atrás, para você ler um livro de linguagem cinematográfica ou dar um curso de documentário, você tinha que sair garimpando textos, pegando filmes em VHS... Hoje você tem uma disponibilidade grande de livros e filmes, há cursos especiais e até sistemáticos oferecidos pelas universidades, e, mesmo assim, me parece que essa oferta, já grande para uma cidade como Goiânia, ainda não se traduziu num avanço da nossa preocupação com duas coisas: a linguagem e a distribuição. Se fala muito que não se tem um esquema de distribuição, e se pensa sempre no outro, esquecendo-se que nós, cineastas, temos a nossa responsabilidade. O cineasta tem uma disponibilidade grande para vir ao Fica, mas não está disponível para ir às escolas, atender aos pedidos da mídia, dos centros comunitários, das universidades... Um exemplo concreto disso você pode ter conversando com o pessoal da Cara Vídeo, que tem uma experiência grande com uma distribuição absolutamente politizada. Esse é um trabalho de formiguinha, do dia-a-dia, e que pode se consolidar.

A existência de prêmios especiais para os filmes goianos no Fica mais prejudica ou ajuda a produção local?

É prejudicial porque nos acomoda, mas é uma faca de dois gumes. Não sei se essa reserva - vamos dizer assim - não se justifica. Existe reserva no mundo inteiro. Hollywood é uma grande reserva. Acredito que é preciso ver também o aspecto da crítica. A última vez que fiz uma crítica sobre cinema brasileiro e curta-metragem foi no primeiro Goiânia Mostra Curtas. E foi duro. Fazer uma crítica sobre o que acontecia no cinema brasileiro era fácil. Mas quando cheguei para falar dos filmes de Goiás, tremi nas bases. Todos os meus amigos estavam ali. Temos hoje várias pessoas dentro e fora da universidade e pode-se contar nos dedos quem se dispõe a fazer uma crítica da nossa produção geral ou de algum produto em particular. Esse também é um problema. Talvez os professores digam: "Não temos obras com valor suficiente para estimular a crítica". Tudo bem. Mas eu queria que eles falassem isso. Acho que as pessoas deveriam pelo menos dizer por que se faz crítica de filme de fora e não de filme daqui. Existe, por exemplo, uma crítica freqüente sobre a literatura goiana. As críticas de cinema existem, mas são esporádicas.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Notícia / Aos curtametragistas


Programada para 6 a 11 de outubro, a 9ª Goiânia Mostra Curtas vai ser lançada oficialmente na próxima terça, 30, às 18h30. O happy hour na sede do Iphan (Avenida 84, nº 61, Setor Sul, em Goiânia) marca ainda a abertura das inscrições para a competição.

Para saber mais, acesse o site da 9ª Goiânia Mostra Curtas, a partir de 30 de junho, e pegue o regulamento e a ficha de inscrição. O curtametragista interessado em participar vai ter até 20 de agosto para submeter seu trabalho à organização da mostra. Se preferir ter mais informações por telefone, disque: (62) 3218-3780.

A realização da Goiânia Mostra Curtas fica a cargo do Icumam (Instituto de Cultura e Meio Ambiente).

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Fica / O que o júri pensa sobre os premiados


A organização do Fica acaba de divulgar o argumento do júri oficial para a premiação dos filmes da mostra competitiva. Durante a cerimônia de anúncio dos vencedores, no sábado, 21, os textos foram lidos logo em seguida à divulgação dos nomes, em meio aos gritos de comemoração, e por isso não tiveram tanto destaque. Agora é possível dar uma olhada neles com calma. Embora sucintos, são intessantes.

Ganhador do prêmio mais importante, Corumbiara (foto), por exemplo, teve sua escolha justificada da seguinte forma pelo time composto por Carlos Gerbase, Kiko Goifman, Mario Barroso, Rosa Berardo e Francisco Elinaldo Teixeira: "Pelo resultado de uma longa e apaixonada investigação histórica, que trouxe às telas toda a capacidade do projeto 'Vídeo nas Aldeias', evidenciando a gravidade do genocídio indígena". O diretor Vincent Carelli levou pra casa o Troféu Cora Coralina e um cheque de R$ 50 mil.

Para ler os argumentos a respeito dos outros premiados, clique aqui. Se o link não funcionar, entre no site oficial do Fica e procure por "Argumento do Júri para a premiação dos filmes" no menu à esquerda.

Notícia / Desbitola volta em julho


Galera da Fractal Filmes comunica que em junho, excepcionalmente, não haverá Desbitola - Ciclo de Debates do Cinema Goiano. A próxima edição do evento fica previamente marcada para 30 de julho, às 19 horas, no Cine Goiânia Ouro.

Leia mais sobre o Desbitola no blog da Fractal Filmes ou acompanhe as novidades pelo Twitter.

domingo, 21 de junho de 2009

Fica / A cerimônia, os prêmios e os premiados


Os três filmes apontados pelo blog como possíveis ganhadores do XI Fica confirmaram a previsão e arrebataram troféus, ontem, na cerimônia oficial de anúncio dos premiados. Aberto às 21h30, já com meia hora de atraso, o evento teve ainda uma gafe logo nos primeiros minutos.

A lista com os nomes dos premiados da VII Mostra ABD Cine Goiás, paralela à competição oficial e que geralmente abre a cerimônia, não chegou em tempo às mãos dos organizadores. Infelizmente, isso só veio à tona quando a cerimonialista já havia anunciado o prêmio de Melhor Roteiro e convidado o escritor Miguel Jorge para entregar a honraria.

Miguel Jorge ficou no palco segurando a Pedra Goiana por cerca de 10 minutos, até que a organização desistiu de esperar o aparecimento da lista. Para dar andamento à cerimônia, inverteu-se a ordem tradicional e liberou-se antes o prato principal: os vencedores da mostra competitiva do Fica. Miguel Jorge voltou ao seu lugar e tentou ser bem-humorado: "Foi um ato falho".

Passado o problema, a cerimônia correu bem, com a ressalva de que talvez pudesse ser um pouco mais curta — terminou às 23h30.

Uma confirmação bastante esperada foi feita pela presidente da Agepel, Linda Monteiro: por meio de edital a ser publicado em 10 dias, o governo do Estado vai oferecer um crédito de R$ 400 mil para a produção de cinco curtas metragens. Vão ser aceitos projetos de ficção, documentário e animação.

Para ver a lista completa dos vencedores do XI Fica, clique aqui.
Para ver a lista completa dos premiados da VII Mostra ABD Cine Goiás, vá por aqui.

PS: Apesar do problema na cerimônia de premiação, é preciso ressaltar que, em geral, o XI Fica, que termina hoje com o show de Vanessa da Mata, esteve muito bem organizado. Sobretudo no que diz respeito ao atendimento à imprensa. O autor do blog viajou a Goiás a convite da organização do festival e teve dela total suporte durante os cinco dias de evento.

Crédito da foto: Marcos Roberto dos Santos.

sábado, 20 de junho de 2009

Fica / Agenda do festival aqui e acolá


Divulgada há pouco pela Agepel, a agenda da Mostra Itinerante do XI Fica prevê exibições dos filmes selecionados em oito municípios. Confira a programação:

Goiânia (GO) / Cine Cultura
- Em julho (data específica indefinida)

Goiânia (GO) / Secretaria da Fazenda (Sefaz)
- 9 e 23 de julho
- 6 e 20 de agosto
- 3 e 17 de setembro
- 1, 15 e 29 de outubro
- 12 e 26 de novembro
- 3 de dezembro

Campinas (SP)
- 22 a 24 de setembro

Canela (RS)
- 4 a 13 de setembro

São Paulo (SP)
- 13 a 16 de agosto

Florianópolis (SC)
- 25 a 27 de agosto

Trancoso (BA)
- 25 a 27 de setembro

Cuiabá (MT)
- 25 a 27 de outubro

Vitória (ES)
- 14 a 16 de outubro
(Crédito da foto: Marcos Roberto dos Santos)

Fica / Incentivo ou paternalismo?

Marco Aurélio Vigário
Da Cidade de Goiás

Aberto na terça, 19, o XI Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica) reuniu realizadores goianos, brasileiros e estrangeiros, pesquisadores, professores e estudantes de audiovisual na Cidade de Goiás. De quarta a sábado, além de participarem de cursos e palestras, eles puderam colocar em perspectiva um recorte da produção internacional, nacional e local.

A reportagem da Tribuna aproveitou a presença deles para discutir a qualidade do cinema feito em Goiás, bem como a contribuição do festival para a melhoria dele. É inegável que, desde a primeira edição do Fica, em 1999, a produção goiana cresceu e outros eventos relacionados ao tema vieram no mesmo rastro. Esse lado positivo, porém, não evitou alguns efeitos colaterais.
Um deles é diagnosticado pelo especialista em cinema Carlos Cipriano, que participou do júri de pré-seleção do festival em 2009. Cipriano foi um dos responsáveis por assistir as 556 obras inscritas e, dentre elas, tirar 29 para a mostra competitiva. Os goianos, que concorrem a prêmios específicos para a produção local, eram 54 no bolo inicial e tiveram apenas quatro obras selecionadas ao final.

Para Cipriano, a existência de uma premiação à parte para a produção goiana incentiva o realizador por um lado, mas leva ao imediatismo e ao oportunismo por outro. "A gente vê muitos trabalhos mal elaborados e mal acabados, devido à pressa de se inscrever para participar do Fica e ganhar algum prêmio", diz. Além disso, Cipriano acredita que a própria definição do que é "cinema goiano" é complexa, já que atualmente muitos filmes são feitos em sistema de coprodução, frequentemente com dois ou três diretores de regiões distintas.

Baseado nisso, ele defende a extinção dos dois prêmios especiais para os melhores filmes goianos - os troféis José Petrillo e João Bennio, que distribuem R$ 40 mil cada um. "Os goianos devem ser bons ao ponto de competir com qualquer sergipano, pernambucano ou carioca", argumenta, acrescentando: "Esse paternalismo ou protecionismo existente hoje não tem levado a nada. Em 11 anos, nada mudou".

Leia a continuação da reportagem publicada na edição 1176 da Tribuna do Planalto. Clique aqui.

Fica / Martinho da Vila em Goiás


Declaração do compositor e cantor carioca Martinho da Vila, hoje, na Cidade de Goiás, onde ele se apresenta logo mais, às 22 horas:

"Essa história de patrimônio não sei se tem muita função. É mais pra chamar a atenção. Por exemplo: a cidade aqui é patrimônio mundial. Mas só ter o título não quer dizer nada. O mundo inteiro, já que ela é patrimônio dele, deveria estar voltado pra cá. A mesma coisa com o samba: samba patrimônio nacional. E daí?"

Veja programação completa do Fica aqui.
Crédito da foto: Marcos Roberto dos Santos.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Fica / O bom humor de Ângelo Lima


Uma coisa não se pode negar sobre o cineasta Ângelo Lima: ele produz bastante. Pernambucano radicado em Goiás há muitos anos, Ângelo já lançou quatro filmes somente em 2009. Outro — o 30º da carreira — está na boca do forno.

Retratos 3x4 de um Tempo vai mostrar depoimentos de ex-militantes goianos que sobreviveram à ditadura de 64. Ângelo tem 45 horas de gravações e pretende transformá-las em um longa de 1h30 ou 1h40 de duração. Atualmente o projeto está em fase de "pré-edição". Deve ser lançado em agosto, ainda dentro do período de comemoração aos 30 anos da Anistia.

Ontem, na mostra competitiva do XI Fica, Ângelo apresentou seu curta A Próxima Mordida, sobre ataques de tubarões em Recife e a possível responsabilidade de empreendimentos comerciais na atração dos animais para a costa pernambucana. Embora limitado, o filme pode ser considerado candidato ao prêmio do "júri popular", já que arrancou boas gargalhadas da plateia e recebeu os aplausos mais calorosos do dia. Depois da sessão, ao ouvir um comentário sobre o mais de engraçado de seus personagens, Ângelo argumentou, alfinetando os concorrentes: "Não sei por que os filmes têm que ser sempre sisudos aqui nesse festival".

sábado, 13 de junho de 2009

Um presente inesperado: Pauline Kael


O chefe entrou na sala e jogou sobre a mesa um livro. Típico dele. Fascinado por livros, comprador compulsivo e presenteador generoso, Vassil gosta de sempre dividir seu entusiasmo por algum novo achado nas livrarias. Era esse o caso. Olhei para a capa - Criando Kane e Outros Ensaios - e percebi que se tratava de uma coletânea assinada pela crítica de cinema americana Pauline Kael. Já fui logo perguntando: "É pra mim?" Ele, meio constrangido, não soube dizer não: "É, fique com ele, estava em promoção lá na Livraria Leitura".

Agradeci pelo presente inesperado e já comecei a ler.

Pauline Kael, que escreveu para The New Yorker (templo do Novo Jornalismo) por quase um quarto de século, é uma das mais controversas e populares críticas de cinema da história. Já na abertura de Criando Kane, ela dispara dois ou três petardos:
"Este é um livro especulativo. Digo um bocado de coisas arriscadas, e digo-as com uma linguagem cheia de gírias, às vezes provocadoras - pois quem pode afirmar, com alguma certeza, como devemos falar dos filmes dos quais mais gostamos? Os filmes são uma diversão tão alegre (...) que sabemos que não são apenas lixo. E de uma tão correta sensualidade (...) que arrasam nossas exigentes ansiedades sobre o lugar que ocupam em comparação com as grandes obras de outras artes."

"(...) Quando os filmes são bons, nos fazem sentir mais vivos, e escrever sobre eles tem o mesmo efeito."

Crédito da foto: James Hamilton

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Notícia / Sotaque espanhol no Goiânia Ouro


A Mostra de Cinema Espanhol e Hispano-Americano está só no começo: aberta na segunda, 8, ainda vai até o dia 30 de junho. Os filmes são exibidos sempre às 12h30, 15 horas e 20 horas, com ingresso a R$ 1. Hoje, por exemplo, estão em cartaz Tudo sobre Minha Mãe (Pedro Almodóvar, 1999), O Filho da Noiva (Juan José Campanella, 2001) e Buenos Aires 100 KM (Pablo José Meza, 2004).

A promoção é do Instituto Hispânico.

Para ver a programação completa, clique aqui.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Notícia / "O Caminho do Meio" abre DocTV


Começa hoje, em Goiás, o quarto ciclo do DocTV — Programa de Fomento à Produção e Teledifusão do Documentário Brasileiro. Na estreia da série de 55 filmes, a Televisão Brasil Central (TBC - canal 13 na TV aberta e 19 na Net) exibe O Caminho do Meio, do realizador mineiro André Amparo. O documentário aborda a relação entre trabalhadores da cana-de-açúcar e fazendeiros e o impacto da atividade no meio ambiente.

Em Goiás, o DocTV é exibido com atraso de uma semana em relação à rede nacional. Enquanto aqui o programa entra em sua primeira semana, em outros Estados já está na segunda. O dia oficial do DocTV na TBC é quarta-feira, às 23h40. Na terça, às 2 da madrugada, tem reprise.

O único documentário goiano na quarta edição do DocTV se intitula Mudernage. O trabalho da diretora Marcela Borela fala sobre o movimento modernista em Goiás, sobretudo nas décadas de 1950 a 1970. Deve ser exibido na 36ª semana do programa, em fevereiro de 2010.

Graduada em jornalismo pela UFG e com atuação na cena do audiovisual goiano, Marcela foi selecionada entre 15 candidatos ao último edital do DocTV Goyaz. Como apoio, recebeu R$ 110 mil para produção e finalização de Mudernage. O documentário passou ainda por oficinas de desenvolvimento orientadas por gente como Jean-Claude Bernadet e Cláudia Mesquita.

Para 2009, um novo edital está previsto, dessa vez contemplando dois projetos goianos — cada qual com direito a R$ 110 mil (alocados pela Agência Goiana de Comunicação, Agecom, e pelo Instituto Rizzo). De acordo com o produtor executivo do programa, João Novaes, a data de lançamento segue indefinida, pois depende de captação de recursos via Lei Goyazes.

Para checar a programação completa do IV DocTV até 2010, clique aqui (arquivo PDF).

Para saber mais detalhes sobre os documentários e os documentaristas, vá pra (arquivo PDF).

Veja abaixo o trailer de O Caminho do Meio.